Antologia de poesia "Com vinho e rosas" de homenagem à Ilha dos Amores é apresentada em Lisboa
A antologia de poesia "Com Vinho e Rosas - O amor o vinho e as rosas na poesia de Luís Vaz de Camões - Homenagem aos 450 anos da Ilha dos Amores" é apresentada na sexta-feira, 10 de junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, pelas 18:00, na Livraria Sá da Costa, em Lisboa.
Organizada pelo poeta Gonçalo Salvado, com desenhos do escultor Francisco Simões e apresentação de Maria João Fernandes, a edição é da responsabilidade da Lumen e da Livraria Sá da Costa Editora, em parceria com a Quinta dos Termos.
A antologia foi concebida para celebrar os 450 anos da "Ilha dos Amores", incluída nos Lusíadas, e insere-se numa coleção de poesia, dirigida por Gonçalo Salvado, cujas obras surgem em formato original livro/garrafa, tentando materializar a relação simbólica e milenar entre o vinho e a poesia. O editor é Ricardo Paulouro.
Para documentar o lançamento será realizado um vídeo, no mesmo dia, na livraria lisboeta, que reproduzirá a leitura de excertos da poesia de Luís de Camões, por Francisco Simões, Gonçalo Salvado e Maria Paula Mendes.
Outras filmagens serão efetuadas junto ao conjunto escultórico "Ilha dos Amores e Ninfas", da autoria de Francisco Simões, no Parque dos Poetas, em Oeiras.
O vídeo, realizado pelo fotógrafo Henrique Calvet, será transmitido, via internet, no dia 17 de junho, na rede social Facebook, na página de partilha de poesia: Quem Lê Sophia de Mello Breyner, coordenada por Lília Tavares e Carlos Campos.
Anthologie de poésie « Avec du vin et des roses » en hommage à l’île des amours est présentée à Lisbonne
L’anthologie de poésie « Avec le vin et les roses - Aimer le vin et les roses dans la poésie de Luís Vaz de Camões - Hommage aux 450 ans de l’île des amours » est présentée le vendredi 10 juin, Jour du Portugal, Camões et les communautés portugaises, à 18h00, à livraria Sá da Costa, à Lisbonne.
Organisée par le poète Gonçalo Salvado, avec des dessins du sculpteur Francisco Simões et une présentation de Maria João Fernandes, l’édition est sous la responsabilité de Lumen et Livraria Sá da Costa Editora, en partenariat avec Quinta dos Termos.
L’anthologie a été conçue pour célébrer le 450e anniversaire de « l’île des amours », incluse dans les Lusíadas, et fait partie d’un recueil de poésie, dirigé par Gonçalo Salvado, dont les œuvres apparaissent sous forme de livre / bouteille originale, essayant de matérialiser la relation symbolique et millénaire entre le vin et la poésie. Le rédacteur en chef est Ricardo Paulouro.
Pour documenter la sortie sera faite une vidéo, le même jour, dans la librairie de Lisbonne, qui reproduira la lecture d’extraits de la poésie de Luís de Camões, par Francisco Simões, Gonçalo Salvado et Maria Paula Mendes.
D’autres tournages seront réalisés avec le décor sculptural « Ilha dos Amores e Ninfas », de Francisco Simões, dans le parc des poètes, à Oeiras.
La vidéo, réalisée par le photographe Henrique Calvet, sera diffusée, via internet, le 17 juin, sur le réseau social Facebook, sur la page de partage de poésie : Quem Lê Sophia de Mello Breyner, coordonnée par Lília Tavares et Carlos Campos.
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10 de Junho Dia De Camoes
Paris, 08 jun 2022 (Lusa) - Uma das exposições mais aguardadas da Temporada Cruzada França-Portugal abre-se sexta-feira no Museu do Louvre, em Paris, com 13 obras da pintura portuguesa dos séculos XV e XVI a lembrarem a importância deste período da arte portuguesa.
"É um verdadeiro evento e estamos muito reconhecidos ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de ter feito viajar estes tesouros, porque são tesouros nacionais, porque é uma maneira única de conhecer esta pintura portuguesa em França e espero que as pessoas percebam a importância desta pintura quando virem estas obras", disse Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora de pintura hispânica do Museu do Louvre e comissária da exposição "A idade de ouro do Renascimento português", em declarações aos jornalistas.
A exposição foi inaugurada formalmente pelo primeiro-ministro português, António Costa, acompanhado pela ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, na terça-feira, mas a abertura ao público far-se-á no dia 10 de junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, ficando aberta até 10 de setembro.
Estarão expostas numa sala dedicada às novidades do departamento de pintura do Louvre obras de Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo, Frei Carlos ou Gregório Lopes, incluindo as portas do Retábulo de Santa Auta ou "São Vicente Atado à Coluna".
Na visita guiada aos jornalistas, tanto Charlotte Chastel-Rousseau como Joaquim Caetano, diretor do MNAA e também comissário desta exposição, expressaram a especificidade da pintura portuguesa deste período que para além do apoio do rei Manuel I, único nas artes entre todos os monarcas portugueses, contava com influências não só vindas da Flandres e de Itália, mas também dos novos territórios que Portugal estava a explorar.
No maior museu do mundo há atualmente apenas três quadros de pintura portuguesa, uma representação "mínima", reconheceu Charlotte Chastel-Rousseau. No entanto, há razões para esta realidade que nada têm a ver com a qualidade da pintura nacional.
"A pintura portuguesa deste período não é conhecida em França. Há muitas razões por isso, desde logo a destruição do património no terramoto de 1755, que destruiu não só as obras, mas também os arquivos tornando muito difícil o estudo da arte portuguesa. Há também a questão da secularização dos mosteiros que levou a que a pintura que estava nesses sítios passasse diretamente às academias de belas artes e depois museus nacionais", explicou em declarações aos jornalistas.
Os 13 quadros presentes no Museu do Louvre vieram todos do MNAA, com Joaquim Caetano a considerar que devido à escassez de obras no mercado de arte esta é uma boa oportunidade para mostrar a arte portuguesa.
"Talvez 30 obras estejam em coleções privadas, enquanto nós temos cerca de 300. Felizmente não houve uma grande dispersão das obras portuguesas, mas o outro lado é que não temos a presença do nosso património nos principais museus do mundo e o interesse dos historiadores é pouco. Esta é então uma possibilidade muito interessante para nós de mostrar a arte portuguesa de a um público mais vasto", indicou o diretor do MNAA.
Questionada sobre a possibilidade de uma sala portuguesa no Louvre, Charlotte Chastel-Rousseau admitiu que a forma de apresentar a coleção de pintura espanhola estava a ser repensada, mas que uma sala portuguesa só poderia ser feita através de novas aquisições de obras, sendo difícil adquirir obras portuguesas no mercado de arte.
Esta exposição decorre no quadro da Temporada Portugal-França, uma iniciativa de diplomacia bilateral entre Portugal e França que visa aprofundar o relacionamento cultural entre os dois países.
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Traduction/
L’une des expositions les plus attendues de la saison des croisades France-Portugal s’ouvre vendredi au musée du Louvre à Paris, avec 13 œuvres de peinture portugaise des 15ème et 16ème siècles rappelant l’importance de cette période de l’art portugais.
« C’est un véritable événement et nous sommes très reconnaissants au Musée National d’Art Ancien (MNAA) d’avoir fait voyager ces trésors car ce sont des trésors nationaux, car c’est une façon unique de connaître cette peinture portugaise en France et j’espère que les gens se rendront compte de l’importance de ce tableau quand ils verront ces œuvres », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, une peinture hispanique conservatrice au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, responsable de la peinture hispanique conservatrice au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, conservatrice en peinture hispanique au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, conservatrice de la peinture hispanique au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, conservatrice de la peinture hispanique au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, conservatrice de la peinture hispanique au musée du Louvre et commissaire de l’exposition « L’âge d’or de la Renaissance portugaise », a déclaré Charlotte Chastel-Rousseau, conservatrice de la peinture hispanique au musée du Louvre et commissaire de l’exposition » déclarations aux journalistes.
L’exposition a été officiellement inaugurée par le Premier ministre portugais, António Costa, accompagné de Français ministre de la Culture Rima Abdul Malak mardi, mais l’ouverture au public aura lieu le 10 juin, au Portugal, à Camões et à la Journée des communautés, et sera ouverte jusqu’au 10 septembre.
Ils seront exposés dans une salle dédiée aux nouveautés du département de peinture des œuvres du Louvre de Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo, Frei Carlos ou Gregório Lopes, y compris les portes du retable de Santa Auta ou « São Vicente Atado à Coluna ».
Lors de la visite guidée des journalistes, Charlotte Chastel-Rousseau et Joaquim Caetano, directeur de la MNAA et également commissaire de cette exposition, ont exprimé la spécificité de la peinture portugaise de cette période qui, en plus du soutien du roi Manuel Ier, unique dans les arts parmi tous les monarques portugais, a eu des influences provenant non seulement de Flandre et d’Italie, mais aussi des nouveaux territoires que le Portugal explorait.
Dans le plus grand musée du monde, il n’y a actuellement que trois peintures de la peinture portugaise, une représentation « minimale », a reconnu Charlotte Chastel-Rousseau. Cependant, il y a des raisons à cette réalité qui n’ont rien à voir avec la qualité de la peinture nationale.
« La peinture portugaise de cette période n’est pas connue en France. Il y a de nombreuses raisons pour lesquelles, de l’extérieur, la destruction du patrimoine lors du tremblement de terre de 1755, qui a détruit non seulement les œuvres, mais aussi les archives, rendant très difficile l’étude de l’art portugais. Il y a aussi la question de la sécularisation des monastères qui a conduit à ce que la peinture qui se trouvait dans ces lieux aille directement aux académies des beaux-arts puis aux musées nationaux », a-t-il expliqué dans des déclarations aux journalistes.
Les 13 peintures présentes au musée du Louvre proviennent toutes de la MNAA, Joaquim Caetano considérant qu’en raison de la rareté des œuvres sur le marché de l’art, c’est une bonne occasion de montrer l’art portugais.
« Peut-être que 30 œuvres sont dans des collections privées, alors que nous en avons environ 300. Heureusement, il n’y a pas eu une grande dispersion des œuvres portugaises, mais l’autre côté est que nous n’avons pas la présence de notre patrimoine dans les principaux musées du monde et l’intérêt des historiens est faible. C’est alors une possibilité très intéressante pour nous de montrer l’art portugais à un public plus large », a indiqué le directeur de MNAA.
Interrogée sur la possibilité d’une salle portugaise au Louvre, Charlotte Chastel-Rousseau a admis que la façon de présenter la collection de peinture espagnole était en train d’être repensée, mais qu’une salle portugaise ne pouvait être faite que par de nouvelles acquisitions d’œuvres, étant difficile d’acquérir des œuvres portugaises sur le marché de l’art.
Cette exposition se déroule dans le cadre de la Saison Portugal-France, une initiative de diplomatie bilatérale entre le Portugal et la France qui vise à approfondir la relation culturelle entre les deux pays.
Quem é Luis De Camoes
Luís Vaz de Camões é a referência maior da literatura portuguesa. Bebeu dos clássicos gregos e romanos para a composição maior dos sonetos e da sua magnum opus, "Os Lusíadas". Por muito que a sua vida tenha sido sofrida e atribulada, o poeta notabiliza-se por uma educação requintada, que lhe permitiu estabelecer o contacto íntimo e inspirativo com as referências da poesia de então. A sua imortalidade alcança quase o mesmo período que a distância percorrida entre Camões e vários dos seus precursores, distância essa que vangloria a sua pertença lusitana e os feitos do seu povo.
Camões no tempo e no espaço
Estima-se que o nascimento de Camões tenha ocorrido algures na primeira metade do século XVI, no ano de 1524, com a sua morte a proporcionar-se a 10 de junho de 1579 ou 1580, data em que se celebra o feriado nacional, o Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas. São mais as incertezas do que as certezas sobre os contornos da sua vida, mas consta-se que teve Lisboa como a cidade principal da sua vida, assim como a presença de Coimbra, na qual aprendeu o latim, e aquilo que se tinha vivido e escrito nos séculos anteriores ao da sua vida. Foi membro da corte, na condição de poeta lírico, embora tenha assumido uma vida incauta, que o conduziu a um autoexílio em África. Foi lá, como militar do exército português, que perdeu o seu olho direito, acabando por voltar a Portugal. No entanto, voltaria a viajar, desta feita para o Oriente, onde redigiu "Os Lusíadas", obra que quase perdia em pleno alto mar.
A obra foi dedicada a D. Sebastião, que lhe asseguraria uma pensão pela sua anterior presença na coroa, embora morresse de forma depauperada, ainda antes do monarca se perder em Alcácer-Quibir. A sua poesia perduraria em "Rimas", assim como algumas peças de teatro, que fomentariam um legado prestigioso, não só dentro de Portugal, mas também de fora, inspirando uma série de correntes literárias e de autores românticos.
O seu pecúlio foi redigido já no final dos tempos renascentistas que assolavam a Europa, numa transição para a Idade Moderna. No entanto, Camões foi cativado por esse revivalismo do que se fez na Antiguidade Clássica, recuperando o humanismo e o naturalismo, sem esquecer a emergência da Ciência como fonte de conhecimento, mesmo perante as doutrinas religiosas vigentes. Os Descobrimentos acabaram por solidificar uma visão do mundo cada vez mais ampla, numa abordagem cada vez mais expansionista, tanto no sentido de desvendar, mas também na intenção de transmitir os saberes dos grandes empreendedores dessa fase. O Renascimento funde o paganismo com o cristianismo, sem esquecer as próprias expressões esotéricas, mas também a fundação das novas formas de interação socioeconómica, essencialmente no comércio.
Essa recuperação do que havia sido feito e dito na Antiguidade perdia-se com a chegada do protestantismo, que radicalizou a atuação da Igreja Católica. Os artistas perdiam, assim, muita da sua liberdade criativa e imaginativa, embora procurassem formas alternativas que exprimir essa inquietação dos tempos que chegavam. Por Portugal, os efeitos da Igreja Católica faziam-se sentir, com a subserviência do poder real à materialização da voz divina. Porém, a vontade de louvar os feitos concretizados por um país de descobertas e de superações era acrescido, mesmo com o fantasma de uma possível perda de soberania a já pairar no ar, no rescaldo de uma crise de sucessão e de desaires nas suas possessões.
As bases e as formas da sua escrita
Luís de Camões redigiu poemas, peças de teatro e a própria essência heroica, a epopeia "Os Lusíadas". Nessa amplitude lírica, entregou-se às elegias, aos vilancetes (composto por mote e glosas/voltas), às glosas (também composto por mote e glosas, mas com a repetição do mote no corpo do poema), às redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas) e, por isso, às cantigas, meios de exprimir uma poesia que fundia o trovadoresco com a cortesia, que não o impedia de ser irónico e mordaz. Entre o ser português e o apreço clássico, não se esqueceu de redigir sobre o amor e sobre as suas turbulências, cantando os seus sabores mais doces e dissabores mais amargos. Porém, não se ficou pela poesia peninsular, muito graças às vivências fora de Portugal, que o levaram a sentir um sofrimento coletivo, concertado, que o conduziram para sentir a nação como deduzível nos seus escritos.
Entre as suas inspirações, na perceção do latim e do espanhol, muniu-se um conhecimento apurado da mitologia da Antiguidade Clássica, sem esquecer a história construída por autores, como Ovídio, Horácio, Xenofonte, Virgílio, Homero (referência nas epopeias) e Ptolomeu. Também do latim, mas já posteriores, deleitou-se com o esmero lírico de Petrarca (referência nos sonetos), Ariosto, Boccaccio e Torquato Tasso. Mesmo com tantas inspirações advindas do Renascimento, as suas estiradas líricas, que se afastavam do epicurismo e da tranquilidade do espírito, em conjunto com as suas experiências de vida, encaminhavam-no para o maneirismo, que iluminava a arte que se fazia nesta chegada da Idade Moderna. Os conflitos e os embates em debates caraterizaram o percurso lírico da sua principal obra, mesmo revestidos e estilizados com várias figuras linguísticas e com a presença da mitologia.
Os percursos da escrita camoniana
Entre as já referidas glosas, redondilhas e cantigas, surgem, também, as éclogas (poemas em contexto bucólico e pastoral) e os substanciais sonetos, que demarcam o seu percurso lírico. Aqui, não se sente tão presente o cunho clássico, do qual são exemplo as elegias e as éclogas, mas sim a poesia de cavalaria e de origem provençal, para além das cantigas trovadorescas. O registo castelhano também inspira Camões, em especial as figuras de Juan Boscán e Jorge de Montemor. Este legado coloca a figura do português como um dos mais prolíferos e destacados líricos europeus, que não se limita ao registo poético, mas também ao dramático.
Assim, e tomando em conta a sua presença na corte, destacam-se as suas comédias, sendo elas "El-Rei Seleuco" (a autoria ainda é discutida), "Filodemo" e "Anfitriões". Da primeira obra, surge uma sátira à nobreza, num auto de um só ato em que o rei procura desposar a mulher pela qual o seu filho está apaixonado, numa inspiração clara em Plutarco e Petrarca, e na dramaturgia de Gil Vicente; a segunda, composta na Índia, traz uma paixão de um criado pela filha do fidalgo para quem trabalha, numa crítica à experiência e evidência humana; já a terceira adapta "Amphitryon", de Platão, e transporta a tradição de Gil Vicente na presença constante e norteadora do amor, capaz de mover os mortais e os imortais, na qual também consta uma personagem que só fala em castelhano, um escravo. Não obstante ver as comédias como composições de entretenimento e pouco mais, contribuiu para a renovação do género, no sentido em que trouxe algo mais à construção do enredo e ao traçado cómico das personagens.
Tanto na poesia como no drama, Camões construiu o seu legado como referência da língua portuguesa, firmando-a como um dos registos idiomáticos mais singulares e perenes da Europa. A tradição latinizada da escrita não alcançou, por isso, as intenções camonianas de fazer prevalecer o português. A erudição da sua redação permaneceu como um padrão evolutivo do idioma, com códigos escritos próprios da oralidade, e que permitiu a introdução de vários termos latins no uso corrente da língua nacional.
Amour est feu qui brûle et que l'on ne voit pas ;
C'est blessure cuisante et que l'on ne sent pas ;
Ravissement qui se sait pas ravir ;
Folle douleur qui ne fait pas souffrir ;
C'est ne plus désirer qu'un seul désir ;
C'est marcher solitaire dans la foule ;
Jamais n'avoir plaisir à un plaisir ;
Penser qu'on gagne alors que l'on se perd ;
C'est librement vouloir être captif ;
C'est, quand on est vainqueur, servir qui est vaincu ;
Rester loyal alors que l'on nous tue.
Mais comment ses faveurs font-elles naître
Une amitié entre les cœurs humains,
Si Amour à ce point est contraire à lui-même ?
(Sonnets Luis Vaz de CamõesTraduit par Anne-Marie Quint et Maryvonne BoudoyEditions Changeigne, 1998 - Collection Lusitane)
Texte original (portugais)
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
A importância d' "Os Lusíadas"
Por muito que o passado significasse muito para o testemunho camoniano, a necessidade de ir para além dele denotava-se nas suas intenções, disfarçadas em arcaísmos e em géneros anacrónicos para o que se fazia então. A expressão da glória, à imagem da propaganda que advinha da Igreja Católica, era um meio para apregoar os feitos de uma nação munida de uma história valorosa, desde os tempos da Lusitânia (o título da obra baseia-se nesta denominação romana). A epopeia cruza três dimensões, entre o concílio dos deuses, a recordação do passado histórico e as viagens dos navegadores; dimensões que cruzam vários planos que se podiam assumir como contraditórios, como a importância dos valores emocionais e racionais e a grandeza de quem luta e conquista.
São dez os cantos que constituem esta obra de renome, dispondo de uma introdução, de uma invocação às tágides inspiradoras do autor, e de uma dedicatória a D. Sebastião, monarca à data da redação deste percurso. Os deuses assumem-se, desde já, como observadores da viagem de Vasco da Gama, decidindo o destino da sua tripulação, onde está o autor. Numa paragem em Melinde, a história de Portugal é dissecada por Camões, que conta com a história de Pedro e Inês e a Batalha de Aljubarrota, sem esquecer, eventualmente, a própria emergência do Adamastor. O futuro glorioso de Portugal é decidido e aclamado pelos deuses e pelos que alcançam a Índia, num regresso marcado pela passagem na Ilha dos Amores, onde são agraciados pelas ninfas, que ajudam os navegantes a libertarem-se das agruras vividas. Neste retorno, Camões não se esquece, no epílogo, de refletir sobre a decadência do império nacional e dos aspetos menos positivos dos seus protagonistas.
A narração das batalhas, assim como da presença das circunstâncias naturais e das figuras que induzem ao contacto sensual, é pautada por um percurso esteticamente elevado, enlevado pela sensibilidade camoniana. A erudição da obra não se remete a esta construção escrita, mas também à sua estrutura, em que as dúvidas e as incertezas norteiam um épico naquela fase temporal, onde o amor e a ação desempenham papéis-chave na construção da realidade narrada. Ao contrário da Antiguidade Clássica, Camões traça uma análise contraposta do ser português, que não omite a responsabilidade deste na sua fragilidade, estando desorientado no usufruto dos seus triunfos.
"Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.""Os Lusíadas", Canto IX, estrofe 83.
O amor e a mulher em Camões
Luís de Camões surge como um grande canal de comunicação sobre as preocupações que assolaram, pelo tempo, o povo português. Nesse sentido, e contextualizado numa fase em que a expansão lusa atingia as suas maiores proporções, o autor era a voz dessa responsabilidade, a de civilizar o mundo. A sua missão poética passava por se inspirar nas glórias passadas e presentes para olhar o futuro com ainda maior grandiosidade, potenciando a arte como um veículo de imortalização do povo nacional. Emprestava, assim, a sua escrita à causa de elevar Portugal ao sublime e ao virtuoso.
A glorificação tornou-se uma divinização, não deixando de perder o seu cunho ético, que reconhecia as vicissitudes do povo, através da emblemática e reflexiva voz do Velho do Restelo, que lamentava o esquecimento do território original, e alertava para os sonhos demasiado ambiciosos. No entanto, Camões esperançava-se em relação ao futuro, no alcance de um império que já não estava nas possibilidades dos demais povos, que transpunha qualquer realidade tangível. Aos portugueses, prometia-se a sucessão dos antigos, dos tão referenciados e incorporados por Camões ao longo da sua obra, por via das suas notáveis proezas.
Para além dos portugueses, e ainda antes de se dedicar a esta obra, Camões posicionou o centro da sua gravidade literária no amor. Um amor associado à cortesia, ao galanteio, mas também à moralidade cristã, que fazia prevalecer o amor da alma, do espírito, o platónico, advindo da perceção que o neoplatonismo apresenta e que inspira vários doutores da igreja, como Santo Agostinho. Era esta a fonte primária do sentimento, no qual se articulava a ética e o ideal do belo e do eterno, mas que nunca conseguia atingir a plena concretização nos escritos camonianos. A falta da outra dimensão, que levava à distância e ao afastamento, impedia que se firmasse o amor, lamentando profundamente esta incessante impossibilidade. Isto revela a fragilidade do ser humano perante a presença do sentimento, a sua rendição perante a pureza, num sentido sempre universal. Para que o amor se concretize, Camões só deteta uma solução: a morte. É no seu caminho que observa a chegada ao Paraíso, onde os amados se podem unir e superar a condenação de sofrimento que lhes foi imputada.
O bucólico da poesia medieval surge como o cenário de fundo destas atribulações conjugais, onde pontua a delicadeza e a harmonia da herança pastoral, que retoma na simplicidade e na subtileza de Alberto Caeiro séculos depois. A carnalidade, por isso, torna-se um instrumento de representação da ligação íntima e terna que envolve os protagonistas do casal, imbuídos de uma natureza angelical e divina. A perfeição moral com a qual os sujeitos poéticos são representados sugerem essa corporização perfeita e até inacessível, que corrobora o sofrimento que leva o erotismo a esboroar-se. Por mais que as descrições se compaginem no toque mais desejado, inspirado nas deidades mitológicas, é irremediável o seu destino, traçado no final doloroso e infeliz.
Essas divindades, incorporadas na figura das ninfas, representam a iluminação do intelecto e a possibilidade da regeneração, num cenário paradisíaco, onde se unem corpo e alma. A figura feminina é, também ela, recetora de dádivas e de louvores, especialmente quando se afiguram como Maria, mãe de Jesus Cristo, representativa da perfeição. No entanto, não deixa de ser representada como inferior e submissa, capaz de abdicar da sua identidade para servir o marido, tomado como navegador forte e representativo da coragem e da bravura. A moralidade cristã surge como o maior referencial da conduta da mulher, com D. Teresa e Leonor Teles a serem as principais visadas no decorrer d' "Os Lusíadas".
"Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade:
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela com tristes o piedosas vozes,
Saídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava".
"Os Lusíadas", Canto III, estrofe 124.
As orientações temporais e espaciais na escrita camoniana
Por sua vez, muito daquilo que norteia a narrativa põe-se no que é transitório, no que é incerto. A dialética contrastante na literatura camoniana reflete-se nas meditações efetuadas amiúde sobre a condição humana e os seus fins. À imagem dos preceitos clássicos, é o destino que impera como força superior e norteadora do comportamento e do feito humano. O tempo é o antídoto para tudo aquilo que se estima como infindável, mesmo aniquilando a esperança, o sonho e a firmeza, levando consigo a guerra e a doença, num misto de surpresas que reluz à luz do próprio cosmos. A desilusão conduz a mente aos desencontros do seu pensamento e às dissociações do seu sentido, perante tamanhas dificuldades em viver, mas que endereçam as respostas para a Natureza.
Normalmente, é a religião que responde a muitas destas inquietações, e é o catolicismo que emana com uma pretensa supremacia em relação ao protestantismo e ao islamismo, sendo estes criticados pelo seu caráter de pouca confiança. Camões é, assim, um católico ortodoxo, embora inspirado pela mitologia greco-romana, que se orienta pelos postulados bíblicos. É na Bíblia e nos seus protagonistas que, na sua vida privada, o autor encontra o consolo para as adversidades que lhe sucedem na sua vida, acreditando na recompensa após a morte através da fé cultivada em vida.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía."Sonetos".
Camões aos olhos das gerações subsequentes
Embora sendo o rosto principal da expressão cultural portuguesa, Luís de Camões é dos poetas menos conhecidos para lá do território luso. No entanto, foi saudado pelos espanhóis Lope de Vega e Miguel Cervantes, e pelos alemães Goethe e Friedrich Schlegel, autores marcantes nos séculos subsequentes. A sua influência transpirou, inicialmente, por Espanha, contagiando os próprios monarcas portugueses de nacionalidade espanhola, que usaram a sua herança para legitimar a soberania ibérica.
Foi somente após a restauração da independência, no século XVII, que se efetuou um estudo sobre a obra de Camões, estudo que conheceu repercussão em França e em Inglaterra, merecendo as atenções de Montesquieu e de Voltaire, que consideraram as novidades introduzidas nas epopeias. Com a emergência da independência brasileira, também foram muitos aqueles que se inspiraram no luso para algumas das suas obras, como o poeta Gregório de Matos, Cláudio Manuel Costa e o imigrante Tomás António Gonzaga, herdeiros do movimento arcadista. Também Carlos Drummond de Andrade, já contemporâneo, se deixou influenciar pela poesia camoniana, assim como Haroldo de Campos. A poesia anglófona, encabeçada por John Milton, Lord Byron, William Wordsworth, Emily Dickinson, Elizabeth Browning e Edgar Allan Poe, beberam da tradição camoniana, ingerindo influências que remontavam ao subtil e ao erudito, aquando do encanto pelo latim.
A tradução do trabalho de Camões, assim como das exegeses feitas da sua obra, conduziu essa internacionalização, mas não ofuscou aquilo que foi o seu estudo dentro de portas, mobilizando o arcadismo, em que se denota Bocage, mas também o romantismo, nos vultos de Almeida Garrett e de Antero de Quental. A sua biografia foi sendo adulterada com o tempo, a bem de uma glorificação da vida de Camões, embora sem corresponder à realidade. As celebrações do seu aniversário foram-se efetuando, servindo como bandeira de contrastes de ideologias políticas, em especial nos séculos XIX e XX, no qual se evidenciou como meio propagandístico da política nacionalista do Estado Novo; enquanto Fernando Pessoa fazia seguir a "Os Lusíadas" "Mensagem" (1934), uma obra da exultação do povo português, procurando fazê-lo emergir da decadência, no alcance do afamado Quinto Império. À imagem da ideologia salazarista, transmitia-se que só os portugueses conseguiam compreender a valia deste vulto e da sua obra, algo que se alterou radicalmente após a revolução de 1974, onde a figura de Camões não só se democratizou, mas se tornou na representação de todas as comunidades portuguesas.
Luís Vaz de Camões cruzou o seu destino com o português, o da sua pátria, em decadência e em perda, até se encontrarem na eternidade de uma referência que permanece elementar quando se fala de Portugal, por mais controvérsias que surjam em torno da sua vida e obra. O dia 10 de junho, data da sua morte, é uma mera indicação calendar de alguém que se tornou extensível a todos os meses, anos e séculos pela importância assumida na literatura de língua portuguesa. A sua valorização da Antiguidade Clássica fecha com chave de ouro o Renascimento artístico, que orienta o contributo mitológico e as formas de escrever na Antiguidade Clássica para algo que é, ainda assim, muito presente. Camões é omnipresente na identidade portuguesa (até num "vai chatear o Camões) e no falar português, assumindo o protagonismo heroico e poético de um caminho falado profético.
Lucas Brandao 2008
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Luís Vaz de Camões est la plus grande référence de la littérature portugaise. Il a bu des classiques grecs et romains pour la composition plus large des sonnets et de leur magnum opus, « Les Lusiadas ». Autant sa vie a été soufferte et troublée, le poète est connu pour une éducation exquise, qui lui a permis d’établir un contact intime et inspiré avec les références de la poésie de cette époque. Son immortalité atteint presque la même période que la distance parcourue entre Camões et plusieurs de ses précurseurs, une distance qui vante son appartenance lusitanienne et les actes de son peuple.
Camões dans le temps et l’espace
On estime que la naissance de Camões a eu lieu dans la première moitié du XVIe siècle, en 1524, sa mort étant fournie le 10 juin 1579 ou 1580, date à laquelle la fête nationale, la fête du Portugal, Camões et les communautés portugaises sont célébrées. Ce sont plus des incertitudes que des certitudes sur les contours de sa vie, mais on dit qu’il avait Lisbonne comme ville principale de sa vie, ainsi que la présence de Coimbra, dans laquelle il a appris le latin, et ce qui avait été vécu et écrit dans les siècles précédant celui de sa vie. Il était membre de la cour, en tant que poète lyrique, bien qu’il ait assumé une vie incautatique, ce qui l’a conduit à un auto-exil en Afrique. C’est là, en tant que Militaire portugais, qu’il a perdu son œil droit, pour finalement retourner au Portugal. Cependant, il retournera voyager, cette fois à l’Est, où il écrira « Os Lusíadas », une œuvre qu’il a failli perdre en haute mer.
L’œuvre était dédiée à Don Sébastien, qui lui garantirait une pension pour sa présence antérieure dans la couronne, bien qu’il soit mort épuisé, avant même que le monarque ne soit perdu à Alcácer-Quibir. Sa poésie durera dans « Rimas », ainsi que dans quelques pièces de théâtre, qui favoriseront un héritage prestigieux, non seulement au Portugal, mais aussi de l’extérieur, inspirant une série de courants littéraires et d’auteurs romantiques.
Son argent a été rédigé à la fin de la Renaissance qui a tourmenté l’Europe dans une transition vers l’âge moderne. Cependant, Camões a été captivé par ce revivalisme de ce qui a été fait dans l’Antiquité classique, récupérant l’humanisme et le naturalisme, sans oublier l’émergence de la science comme source de connaissance, même face aux doctrines religieuses dominantes. Les Découvertes ont fini par solidifier une vision du monde de plus en plus large, dans une approche de plus en plus expansionniste, à la fois dans le sens du dévoilement, mais aussi dans l’intention de transmettre le savoir des grands entrepreneurs de cette phase. La Renaissance fusionne le paganisme avec le christianisme, sans oublier ses propres expressions ésotériques, mais aussi le fondement de nouvelles formes d’interaction socio-économique, essentiellement dans le commerce.
Cette récupération de ce qui avait été fait et dit dans l’Antiquité s’est perdue avec l’arrivée du protestantisme, qui a radicalisé la performance de l’Église catholique. Les artistes ont ainsi perdu une grande partie de leur liberté créative et imaginative, bien qu’ils aient cherché d’autres moyens d’exprimer cette agitation des temps qui venaient. Pour le Portugal, les effets de l’Église catholique se sont fait sentir, avec la soumission du pouvoir réel à la matérialisation de la voix divine. Cependant, la volonté de louer les réalisations réalisées par un pays de découvertes et de dépassement a été accrue, même avec le fantôme d’une possible perte de souveraineté déjà suspendue dans l’air au lendemain d’une crise de succession et de desaires dans ses possessions.
Les bases et les formes de votre écriture
Luís de Camões a écrit des poèmes, des pièces de théâtre et l’essence héroïque elle-même, l’épopée « Os Lusíadas ». Dans cette amplitude lyrique, nous nous sommes donnés à l’élégie, aux vilancetes (composées de mote et de gloses/turns), aux gloses (également composées de mote et de gloses, mais avec la répétition de la mote dans le corps du poème), aux redondilhas (vers de cinq ou sept syllabes) et, par conséquent, aux chansons, moyens d’exprimer une poésie qui fusionnait le troubadour avec courtoisie, cela ne l’a pas empêché d’être ironique et mordant. Entre le portugais et l’appréciation classique, il n’a pas oublié d’écrire sur l’amour et ses turbulences, chantant ses saveurs les plus douces et ses saveurs plus amères. Cependant, il n’a pas été laissé par la poésie péninsulaire, grâce aux expériences en dehors du Portugal, qui l’ont amené à ressentir une souffrance collective et concertée, ce qui l’a amené à ressentir la nation comme déductible dans ses écrits.
Parmi ses inspirations, dans la perception du latin et de l’espagnol, il y avait une connaissance approfondie de la mythologie de l’Antiquité classique, sans oublier l’histoire construite par des auteurs tels qu’Ovide, Horace, Xénophon, Virgile, Homère (référence dans les épopées) et Ptolémée. Toujours du latin, mais déjà plus tard, il s’est défiguré avec le soin lyrique de Pétrarque (référence dans les sonnets), Ariosto, Boccace et Torquato Tasso. Même avec tant d’inspirations de la Renaissance, ses mouvements lyriques, qui s’éloignaient de l’épicurisme et de la tranquillité de l’esprit, ainsi que ses expériences de vie, l’ont conduit au wayirisme, qui a illuminé l’art qui a été fait dans cette arrivée de l’âge moderne. Les conflits et les affrontements dans les débats ont caractérisé le cours lyrique de son œuvre principale, même revêtue et stylisée de diverses figures linguistiques et de la présence de la mythologie.
Les chemins de l’écriture camonienne
Parmi les gloses, redondilhas et chants susmentionnés, il y a aussi les eclogas (poèmes dans un contexte bucolique et pastoral) et les sonnets substantiels, qui délimitent leur parcours lyrique. Ici, le caractère classique, dont sont les elegias et les éclogas, mais la poésie de chevalerie et d’origine provençale, en plus des chants troubadours, n’est pas si présent. Le registre castillan inspire également Camões, en particulier les figures de Juan Boscán et Jorge de Montemor. Cet héritage place la figure du portugais comme l’une des paroles européennes les plus prolifiques et les plus remarquables, qui ne se limite pas à l’enregistrement poétique, mais aussi au dramatique.
Ainsi, et compte tenu de sa présence au tribunal, ses comédies se démarquent, étant « El-Rei Seleuco » (la paternité est encore discutée), « Filodemo » et « Hosts ». Dès la première œuvre, il y a une satire de la noblesse, dans un moi en un acte dans lequel le roi cherche à épouser la femme dont son fils est amoureux, dans une inspiration claire dans Plutarco et Pétrarque, et dans la dramaturgie de Gil Vicente; la seconde, composée en Inde, apporte une passion de serviteur par la fille du sofone pour laquelle il travaille, dans une critique de l’expérience et des preuves humaines; le troisième adapte « Amphitryon » de Platon et transporte la tradition de Gil Vicente dans la présence constante et septentrionale de l’amour, capable d’émouvoir les mortels et les immortels, dans lequel comprend également un personnage qui ne parle qu’en castillan, un esclave. Bien qu’il considère les comédies comme des compositions de divertissement et peu d’autres choses, cela a contribué au renouveau du genre, dans le sens où il a apporté quelque chose de plus à la construction de l’intrigue et à la disposition comique des personnages.
Tant en poésie qu’en théâtre, Camões a construit son héritage comme une référence de la langue portugaise, l’établissant comme l’un des documents idiomatiques les plus uniques et les plus pérennes d’Europe. La tradition latinisée de l’écriture n’a donc pas atteint les intentions camoniennes de faire du portugais. L’érudition de son écriture est restée un modèle évolutif de la langue, avec des codes écrits propres à l’oralité, et qui a permis l’introduction de divers termes latins dans l’usage actuel de la langue nationale.
L’amour est un feu qui brûle sans se voir ;
C’est une blessure qui fait mal sans le sentir;
C’est un contentement mécontent;
C’est la douleur qui se défait sans faire mal.C’est un ne plus vouloir vouloir;
C’est une promenade solitaire entre les gens;
Ce n’est jamais content du contentement;
C’est un soin qui gagne à se perdre;C’est vouloir être coincé volontairement;
C’est servir ceux qui gagnent, le gagnant;
C’est de savoir qui nous tue, la loyauté.Mais comment causer votre faveur
Dans les cœurs humains l’amitié, si
si contraire à vous est le même Amour?« Sonnets. »
L’importance de « Os Lusíadas »
Autant le passé signifiait beaucoup pour le témoin monien, autant la nécessité d’aller au-delà était dénotée dans ses intentions, déguisée en archaïsmes et en genres anachroniques pour ce qui se faisait alors. L’expression de la gloire, à l’image de la propagande qui venait de l’Église catholique, était un moyen de proclamer les actes d’une nation armée d’une histoire précieuse, depuis l’époque de la Lusitanie (le titre de l’œuvre est basé sur cette dénomination romaine). L’épopée croise trois dimensions, entre le conseil des dieux, la mémoire du passé historique et les voyages des navigateurs ; des dimensions qui traversent plusieurs plans que l’on pourrait considérer comme contradictoires, comme l’importance des valeurs émotionnelles et rationnelles et la grandeur de ceux qui se battent et conquièrent.
Il y a dix chansons qui constituent cette œuvre renommée, avec une introduction, une invocation aux tacides inspirants de l’auteur, et une dédicace à D. Sebastião, monarque au moment de la rédaction de ce voyage. Les dieux s’assument désormais comme des observateurs du voyage de vasco de Gama, décidant du sort de son équipage, où se trouve l’auteur. Lors d’un arrêt à Melinde, l’histoire du Portugal est disséquée par Camões, qui raconte l’histoire de Pedro et Inês et la bataille d’Aljubarrota, sans oublier, finalement, l’émergence même de l’Adamastor. L’avenir glorieux du Portugal est décidé et acclamé par les dieux et ceux qui atteignent l’Inde, dans un retour marqué par le passage sur l’île des Amours, où ils sont honorés par des nymphes, qui aident les marins à se libérer des difficultés vécues. Dans ce retour, Camões n’oublie pas, dans l’épilogue, de réfléchir sur la décadence de l’empire national et les aspects moins positifs de ses protagonistes.
La narration des batailles, ainsi que la présence de circonstances naturelles et de figures qui induisent un contact sensuel, est guidée par un chemin esthétiquement élevé, enthousiasmé par la sensibilité camonienne. L’érudition de l’œuvre ne se réfère pas à cette construction écrite, mais aussi à sa structure, dans laquelle doutes et incertitudes guident une épopée dans cette phase temporelle, où l’amour et l’action jouent des rôles clés dans la construction de la réalité racontée. Contrairement à l’antiquité classique, Camões trace une analyse contrastée de l’être portugais, qui n’omet pas sa responsabilité dans sa fragilité, étant désorienté dans la jouissance de ses triomphes.
« O quels baisers affamés dans la forêt, et
quel cri de mimoso qui retentissait!
Quels câlins doux, cette colère honnête, que
dans les petits risinhos joyeux est devenu!
Quoi d’autre passe le matin, et sieste,Que
Vénus avec des plaisirs enflammés,Il
vaut mieux l’essayer que de le juger,mais
jugez-le qui ne peut pas l’essayer. »« Os Lusíadas », Canto IX, strophe 83.
Amour et femme à Camões
Luís de Camões émerge comme un grand canal de communication sur les préoccupations qui ont tourmenté, pour l’époque, le peuple portugais. En ce sens, et contextualisé dans une phase où l’expansion portugaise a atteint ses plus grandes proportions, l’auteur était la voix de cette responsabilité, de civiliser le monde. Sa mission poétique était de s’inspirer des gloires passées et présentes pour regarder vers l’avenir avec encore plus de grandeur, en renforçant l’art comme véhicule d’immortalisation du peuple national. Il a ainsi prêté son écriture à la cause de l’élévation du Portugal au sublime et au vertueux.
La glorification est devenue une divinisation, ne manquant pas de perdre son caractère éthique, qui reconnaissait les vicissitudes du peuple, à travers la voix emblématique et réfléchie du vieil homme de Restelo, qui déplorait l’oubli du territoire originel et mettait en garde contre les rêves trop ambitieux. Cependant, Camões avait de l’espoir pour l’avenir, à la portée d’un empire qui n’était plus dans les possibilités des autres peuples, qui transposait toute réalité tangible. Aux Portugais, la succession des anciens, ceux ainsi référencés et incorporés par Camões tout au long de son œuvre, a été promise, à travers ses réalisations remarquables.
En plus des Portugais, et avant même de se consacrer à cette œuvre, Camões a positionné le centre de sa gravité littéraire dans l’amour. Un amour associé à la courtoisie, à la galanterie, mais aussi à la morale chrétienne, qui a fait prévaloir l’amour de l’âme, de l’esprit, du platonique, venant de la perception que présente le néoplatonisme et qui inspire plusieurs docteurs de l’église, comme saint Augustin. C’était la source première du sentiment, dans lequel l’éthique et l’idéal du beau et de l’éternel étaient articulés, mais qui ne pouvait jamais atteindre la pleine réalisation dans les écrits moniens. L’absence de l’autre dimension, qui conduisait à la distance et à l’éloignement, empêchait l’amour de s’établir, déplorant profondément cette impossibilité incessante. Cela révèle la fragilité de l’être humain en présence de sentiments, son abandon à la pureté, dans un sens toujours universel. Pour que l’amour se réalise, Camões ne trouve qu’une seule solution : la mort. C’est sur leur chemin qu’il observe l’arrivée au Paradis, où les êtres chers peuvent s’unir et surmonter la condamnation de la souffrance qui leur est attribuée.
Le bucolique de la poésie médiévale émerge comme le fond de ces tribulations conjugales, où il ponctue la délicatesse et l’harmonie du patrimoine pastoral, qui reprend dans la simplicité et la subtilité d’Alberto Caeiro des siècles plus tard. La charnalité devient donc un instrument de représentation de la connexion intime et physique qui implique les protagonistes du couple, imprégnés d’une nature angélique et divine. La perfection morale avec laquelle les sujets poétiques sont représentés suggère cette emporisation parfaite et même inaccessible, qui corrobore la souffrance qui conduit l’érotisme à la cicatrice. Autant les descriptions sont complétées dans la touche la plus désirée, inspirées par des divinités mythologiques, autant son destin est irrémédiable, retracé à la fin douloureuse et malheureuse.
Ces divinités, incorporées dans la figure des nymphes, représentent l’illumination de l’intellect et la possibilité de régénération, dans un scénario paradisiaque, où le corps et l’âme sont unis. La figure féminine est aussi une receveuse de dons et de louanges, surtout lorsqu’elle apparaît comme Marie, mère de Jésus-Christ, représentative de la perfection. Cependant, elle est toujours représentée comme inférieure et soumise, capable d’abandonner son identité pour servir son mari, considérée comme une navigatrice forte et représentative du courage et de la bravoure. La morale chrétienne apparaît comme la plus grande référence de la conduite des femmes, D. Teresa et Leonor Teles étant les principales cibles au cours de « Os Lusíadas ».
« Ils lui ont apporté les horribles bourreaux devant le roi, déjà émus
par la piété :
mais le peuple, avec des raisons fausses et féroces, à la mort brute le persuade
.
Elle avec des voix pieuses tristes
, ne sort que de chagrin, et
désirant ardemment son Prince, et les enfants qui sont partis, Que
plus que la mort elle-même l’a blessée ».
« Os Lusíadas », Canto III, strophe 124.
Les orientations temporelles et spatiales dans l’écriture camonienne
À son tour, une grande partie de ce qui est au nord du récit est ce qui est transitoire, ce qui est incertain. La dialectique contrastée de la littérature camonienne se reflète dans les méditations souvent effectuées sur la condition humaine et ses fins. À l’image des préceptes classiques, c’est le destin qui règne comme une force supérieure et septentrionale du comportement et de l’action humaine. Le temps est l’antidote à tout ce qui est considéré comme sans fin, voire anéantissant l’espoir, le rêve et la fermeté, emportant avec lui la guerre et la maladie, dans un mélange de surprises qui brille à la lumière du cosmos lui-même. La désillusion conduit l’esprit aux décalages de sa pensée et aux dissociations de son sens, face à de telles difficultés de vie, mais qui abordent les réponses à la nature.
Habituellement, c’est la religion qui répond à beaucoup de ces préoccupations, et c’est le catholicisme qui se dégage d’une soi-disant suprématie sur le protestantisme et l’islam, et ceux-ci sont critiqués pour leur caractère peu confiant. Camões est donc un catholique orthodoxe, bien qu’inspiré par la mythologie gréco-romaine, qui est guidée par des postulats bibliques. C’est dans la Bible et ses protagonistes que, dans sa vie privée, l’auteur trouve la consolation pour les adversités qui le suivent dans sa vie, croyant en la récompense après la mort par la foi cultivée dans la vie.
Vous changez les temps, vous changez les volontés,
vous changez l’être, vous changez la confiance :
tout le monde est composé de changement,
prenant toujours de nouvelles qualités.Continuellement, nous voyons des nouvelles, différentes
en tout de l’espoir:
Du mal sont les chagrins dans le souvenir, Et
le bien (s’il y en avait) le désir.Le temps recouvre le sol du manteau vert, qui
a déjà recouvert de neige froide, et
en moi se convertit en pleurs le doux coin.Et en dehors de ce changement tous les jours,Un autre changement
rend mor étonnement,Qui
ne change pas déjà comme il le fait.« Sonnets. »
Camões aux yeux des générations suivantes
Bien que le visage principal de l’expression culturelle portugaise, Luís de Camões est l’un des poètes les moins connus au-delà du territoire portugais. Cependant, il a été accueilli par les Espagnols Lope de Vega et Miguel Cervantes, et par les Allemands Goethe et Friedrich Schlegel, auteurs remarquables dans les siècles suivants. Son influence a d’abord été transpirée par l’Espagne, infectant les monarques portugais de nationalité espagnole, qui ont utilisé leur héritage pour légitimer la souveraineté ibérique.
Ce n’est qu’après la restauration de l’indépendance au 17ème siècle qu’une étude a été réalisée sur l’œuvre de Camões, une étude qui a eu des répercussions en France et en Angleterre, méritant l’attention de Montesquieu et Voltaire, qui ont considéré les nouveautés introduites dans les épopées. Avec l’émergence de l’indépendance brésilienne, beaucoup se sont également inspirés des Portugais pour certaines de ses œuvres, tels que le poète Grégoire de Matos, Cláudio Manuel Costa et l’immigrant Tomás António Gonzaga, héritiers du mouvement archaïque. Carlos Drummond de Andrade, déjà contemporain, a également été influencé par la poésie camonienne, ainsi que par Haroldo de Campos. La poésie anglophone, dirigée par John Milton, Lord Byron, William Wordsworth, Emily Dickinson, Elizabeth Browning et Edgar Allan Poe, buvait de la tradition camonienne, ingérant des influences qui remontaient au subtil et à l’érudit, à l’époque du charme du latin.
La traduction de l’œuvre de Camões, ainsi que l’exégèse faite de son œuvre, ont conduit à cette internationalisation, mais n’ont pas éclipsé ce qui était son étude à l’intérieur des portes, mobilisant l’archachisme, dans lequel Bocage est noté, mais aussi le romantisme, dans les figures d’Almeida Garrett et d’Antero de Quental. Sa biographie a été falsifiée au fil du temps, dans le but de glorifier la vie de Camões, mais sans correspondre à la réalité. Les célébrations de son anniversaire ont eu lieu, servant de drapeau de contrastes d’idéologies politiques, en particulier aux XIXe et XXe siècles, dans lesquels il a été mis en évidence comme un moyen de propagande de la politique nationaliste de l’Estado Novo; tandis que Fernando Pessoa a suivi le « Os Lusíadas » « Mensagem » (1934), une œuvre de l’exultation du peuple portugais, cherchant à le faire émerger de la décadence, à la portée du célèbre Ve Empire. À l’image de l’idéologie salazariste, il a été transmis que seuls les Portugais pouvaient comprendre la valeur de cette figure et de son œuvre, ce qui a radicalement changé après la révolution de 1974, où la figure de Camões non seulement s’est démocratisée, mais est devenue la représentation de toutes les communautés portugaises.
Luís Vaz de Camões a croisé son destin avec le portugais, celui de sa patrie, dans la décadence et la perte, jusqu’à ce qu’ils se retrouvent dans l’éternité d’une référence qui reste élémentaire quand on parle du Portugal, malgré les controverses qui surgissent autour de sa vie et de son travail. Le 10 juin, date de sa mort, n’est qu’une simple indication calendaire de quelqu’un qui est devenu extensible à chaque mois, année et siècle par l’importance assumée dans la littérature lusophone. Son appréciation de l’Antiquité classique se termine par une clé d’or de la Renaissance artistique, qui guide la contribution mythologique et les manières d’écrire dans l’Antiquité classique à quelque chose qui est encore très présent. Camões est omniprésent dans l’identité portugaise (même dans l’un « va bouleverser Camões ») et dans la langue portugaise, assumant le protagonisme héroïque et poétique d’un chemin parlé prophétique.